26 de fevereiro de 2015

O grande muro branco

   Por meses abri esta página e olhei a caixa de texto vazia, este tracinho piscando insistentemente ansiando para percorrer todo o espaço com alguma história, notícia, poema, qualquer coisa. Mas nada vinha. Estava diante de um grande e imponente muro branco. E fora dele, a vida acontecia. Acontecia numa velocidade brutal, despejando uma onda de coisas novas todos os dias; tanto que mal as processava, apenas digeria e esperava pela próxima jorrada de informações. Acumuladas umas sobre as outras até que se tornasse insuportável, tinha a necessidade de colocá-las para fora, mas as palavras não saiam, o lirismo estava soterrado por aquilo que entendi que era crescer. O romantismo e a poesia da vida pareceram sumir e no lugar delas a frieza e sobriedade de se tomar decisões.
   Olhava para o muro branco, fosse ele este lugar, a folha do caderno ou um pedacinho de papel e frustrava-me por não saber mais quem eu era em meio a tanta vida acontecendo. E culpava tudo o que fosse possível pelo silêncio das minhas palavras, pela impotência das minhas mãos  e pela falência da minha mente. Esperava que um belo dia chegaria e caíssem dos céus a inspiração que em mim havia sumido. Eis então que lembrei de um dos meus livros favoritos (Comer, rezar e amar - sim, sou esse clichê ambulante) e a passagem que era: "Existe uma piada italiana maravilhosa sobre um homem pobre que vai à igreja todos os dias e reza diante da estátua de um grande santo, dizendo: Querido santo, por favor, por favor, por favor… conceda-me a graça de ganhar na loteria. Esse lamento dura meses. Por fim, irritada, a estátua ganha vida, baixa os olhos para o suplicante e diz, com uma repulsa cansada: Meu filho, por favor, por favor, por favor… compre um bilhete.”
   Eu era aquele homem, eu era aquela piada. E hoje decidi comprar o meu bilhete.

26 de março de 2014

traçando passos

Em cada pedacinho de mim existe um pouco de você. Te encontro no meu riso e no meu pranto, minha felicidade e minha dor. Vejo você no fundo dos meus olhos e na palma da minha mão. Olho-me no espelho e vejo a ti refletido. Eu era você. Assim como você era eu. Assim como fomos um borrão indefinido por tanto e tanto tempo. Uma áurea conjunta que tudo compartilhava. Nos desenhamos e criamos nossas formas e cores.Tenho tantas delas dentro de mim! Fizestes de mim um arco íris! E espero ter te preenchido com os tons da aquerela suave, do seu amarelo e o meu roxo, pequenas gotas de amor, carinho, cumplicidade, confiança, lealdade. Agora eu sou eu. E você é você. Estamos dentro de nós mesmos novamente. Vivendo nossas próprias dores e desiluções. Sinto-me como um bebê em seus primeiros passos, trôpego e cambaleante vou. Tão difícil andar só! Caio e choro, quero voltar à velha segurança, aos braços que sempre estiveram ali para me apoiar. Creio que crescer seja isso, eergue-se em seus próprios pés seguindo sozinho. Você também há de cair. E como queria ser eu a estar presente para te pegar pelos braços e lhe sorrir, lhe confortar! Estamos dentro de nós mesmos novamente. Vivendo conquistas e alegrias! O primeiro passo virá, e após ele, o próximo; caminharemos desajeitados, desalinhados, a ir e vir tal como um barco a deriva no mar. E deixemos que nos leve, a desbravar novos mundos, a ver a beleza de outras flores, o canto de outros pássaros. E de pouquinho em pouquinho virá a confiança, a passos fortes e decididos. Marchando com a certeza de saber para onde nos levarão. "Ainda é cedo", já dizia Renato Russo, e é meu bem! Nunca será tarde demais para uma história de amor, para a nossa história de amor. Meus pés 'inda haverão de encontrar os teus! E que se entrelacem os dedos e que os olhos se olhem, se admirem com o renascer. E eu me veja em ti. E você se veja em mim. E teu riso será meu riso.

9 de março de 2013

X da questão

 
     Nunca achei que viveria para o dia em que a matemática me fizesse algum sentido, acontece que agora faz, agora a entendo e isso me assusta. Ora, a única certeza que tinha na vida (além da morte que é certa), era de que a matemática jamais passaria de uma incógnita, de que a minha busca pelo X e seus amiguinhos indesejáveis, o Y, Z, a, b... e afins seria eterna. Mas o que está acontecendo?! Eu os encontrei! E agora eles  não se escondem, vivem a se mostrar.
      E hoje, deixei o romantismo de lado, cansei dessa fuga da vida, melancolia e depressão. Que danem-se os romancistas! Me encontrei mesmo no realismo, na verdade dita fria e crua, sem rodeios, sem enrolações. A verdade é que dei férias ao coração, e deixei que a razão me guiasse. Assim como as equações, a matemática da minha vida agora se resolve assim, ora simples, ora complexa. mas a resposta estará sempre lá. Dei adeus ao romance e abri lugar ao que é real, àquilo que minhas mãos podem tocar e sentir, fechei os olhos da ilusão e abri os olhos para o que realmente me cerca.
     Sei que não é definitivo, uma boba que só sabe falar do amor em suas mais diferentes variações não pode dar adeus para sempre a isso. E sei que algum dia o coração volta e baterá novamente em minha porta e a sonhadora adormecida acordará, e o X mais uma vez se perderá.

8 de março de 2013

8 de março

Tradução: Você a estuprou por que suas roupas o provocaram? Eu deveria quebrar a sua cara porque sua estupidez me provoca. 
     Acho engraçado que quando uma mulher defende seu ponto de vista a partir de sua visão do mundo é logo chamada de "feminazis", chatas e até mesmo hipócritas. A internet hoje, Dia Internacional da mulher, está repleta de mimos, cor de rosa, parabéns por todos os cantos, frases bonitas falando da nossa importância para a sociedade. Sim, nós somos importantes! Sim, temos mulheres marcadas na história que realizaram grandes feitos, lutaram por grandes causas, e até mesmo mulheres banais, aquelas que nos cercam no dia a dia, são feitoras de grandes atos, todos os dias. Mas é preciso que um dia no ano seja reconhecido mundialmente para lembrar dessas coisas que todos parecem esquecer nos demais dias do ano.   
     Não vejo o dia de hoje como algo a ser lembrado pela fragilidade, delicadeza e beleza das mulheres, pois são apenas características. Mas acho que se o dia 8 de março tem de ser lembrado por algo, que seja por mulheres como Joana D'arc, Oprah Winfrey e Irmã Dulce e por todas aquelas que não se colocam na posição de submissa e dominada, que lutem por seus direitos, por sua liberdade de expressão, pelo respeito que tantas vezes parece ser esquecido, que lutem por igualdade. Homens e mulheres jamais serão semelhantes, não é uma questão de tratar a ambos como seres de um único sexo, sem distinções. Mas que perante aos olhos da sociedade, se façam iguais.

7 de março de 2013

O começo

    Hoje tive uma ideia diferente sobre o que postar aqui, dando uma navegada pela internet achei uma foto da primeira edição da revista Vogue e isso instigou minha curiosidade em pesquisar primeiras edições de grandes títulos que gosto bastante. É algo bem complicado de se achar por aí então infelizmente não pude trazer tudo o que pretendia, mas acho que essas aqui são bem legais.


Minha favorita, a primeira fotografia já tirada. Mal se pode perceber os elementos da foto, apenas formas de uma paisagem, torres e casas, mas essa primeira fotografia marcava o início de uma nova forma de expressão.
1ª edição da revista Vogue
1ª edição da Playboy, com a diva Marilyn Monroe na capa
1º episódio das garotas, Miranda, Carrie, Charlotte e Samantha que trouxeram o universo feminino para as tv's de uma forma inovadora, irresistível e divertida. Sex and the city. 
Com poucos minutos de duração e efeitos precários, a primeira versão adaptada para as telas de Alice no país das maravilhas pode parecer estranha e até mesmo assustadora graças ao tom gótico dado as filmagens, mas encantador, como a história sempre é.
Outro sucesso da tv, a série Friends em seu episódio piloto. E quem poderia imaginar que o Central Perk ainda seria visto pelos próximos 10 anos?
Considerado o primeiro filme a trazer a ficção científica para as telas, Le voyage dans la lune é considerado um dos melhores filmes do século XX.

6 de março de 2013

Memórias de um dia triste

   Eu sei que os dias tristes são aqueles que mais desejamos esquecer e apagar de uma vez por todas de nossa memória, mas também penso que se algo é capaz de nos fazer chorar, capaz de sentirmos uma dor no peito, um pedaço faltando, é por que é algo importante e que não deve ser esquecido.
    Um sentimento que sempre odiei era o de saber que perdi algo, não importava o que fosse, me deixava irada, triste, zangada. E hoje não acordei feliz, me dei conta de que havia perdido algumas coisas, nada material, nada que pudesse ser reposto. As notícias no rádio traziam ainda mais perdas. São aquelas horas em que você só consegue se questionar "Porque? Porque coisas assim acontecem?" E era como se houvesse um buraco negro em mim, bem no meio da barriga e que sugava tudo o mais, qualquer força ou ânimo, estava me perdendo dentro de mim mesma. O dia passava e eu apenas o assistia passar, não queria fazer parte desse mundo, não hoje. Sei que amanhã a vida continua, e tem que continuar, como tudo deve ser.
   

"Você deixou saudade"  - Só os loucos sabem.
Sim, você deixou Chorão.

12 de fevereiro de 2013

Ressaca

  Meu amor. Meu amigo, perdoe-me se ando distante, se não dou mais notícias, se não apareço mais para dar um oi e termos aquelas maravilhosas conversas da madrugada. Sem pudores, sem segredos, confissões tão íntimas trazidas à tona como se fossem o resultado do jogo da noite passada.  
   Mas em certo instante, me flagrei pensando em você. Uma vez ao dia... Ora, tudo bem, afinal somos amigos! E então duas, três, quatro... Meu dia passava e minha mente vagava somente em ti, e foi quando realmente descobri que era mais grave do que aparentava ser: pensava em você antes de dormir, criava as mais loucas (e erradas, diga-se de passagem) situações e estas se mesclavam aos sonhos, cujo controle sobre eles era impossível. E acordava no dia seguinte risonha, para então lembrar que em meus sonhos, teus lábios eram meus e eu era sua. 
   Me vi como Capitu, e vira e mexe minha própria consciência exclamava "“olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia..." Eis o que eu era, dissimulada. Por que gostava de te ter em meus braços todas as noites em meus sonhos e por que desejava veemente que aquilo fosse real. 
   Acontece que eu não podia ser Capitu! Não podia estar nesse meio, não podia despertar a fúria e ciúme de Bentinho, que sempre fora tão bom para mim e digno de todo o amor que eu pudesse lhe dar. Por isso venho, meu grande amigo, despedir-me de ti. Mas lhe faço uma última confissão, continuarás a ser personagem de meus sonhos, e pela manhã minha ressaca, meus olhos de ressaca.