12 de fevereiro de 2013

Ressaca

  Meu amor. Meu amigo, perdoe-me se ando distante, se não dou mais notícias, se não apareço mais para dar um oi e termos aquelas maravilhosas conversas da madrugada. Sem pudores, sem segredos, confissões tão íntimas trazidas à tona como se fossem o resultado do jogo da noite passada.  
   Mas em certo instante, me flagrei pensando em você. Uma vez ao dia... Ora, tudo bem, afinal somos amigos! E então duas, três, quatro... Meu dia passava e minha mente vagava somente em ti, e foi quando realmente descobri que era mais grave do que aparentava ser: pensava em você antes de dormir, criava as mais loucas (e erradas, diga-se de passagem) situações e estas se mesclavam aos sonhos, cujo controle sobre eles era impossível. E acordava no dia seguinte risonha, para então lembrar que em meus sonhos, teus lábios eram meus e eu era sua. 
   Me vi como Capitu, e vira e mexe minha própria consciência exclamava "“olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia..." Eis o que eu era, dissimulada. Por que gostava de te ter em meus braços todas as noites em meus sonhos e por que desejava veemente que aquilo fosse real. 
   Acontece que eu não podia ser Capitu! Não podia estar nesse meio, não podia despertar a fúria e ciúme de Bentinho, que sempre fora tão bom para mim e digno de todo o amor que eu pudesse lhe dar. Por isso venho, meu grande amigo, despedir-me de ti. Mas lhe faço uma última confissão, continuarás a ser personagem de meus sonhos, e pela manhã minha ressaca, meus olhos de ressaca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário