Bateu com força a porta deixando-me ali com a boca entreaberta e um
protesto indignado preso em meus lábios pronto para sair. Garota
teimosa! Encostei minha cabeça na mesma porta que acabara de se fechar,
fechei os olhos e respirei fundo.
- Anda Mel… deixe de besteira garota - falei voltando ao meu tom ao normal.
- Vai embora! Não quero ver você! - Gritou de dentro do quarto com voz de menina de 10 anos fazendo birra.
- Sabe que não vou. - falei sentando-me em frente à porta.
Silêncio. E assim ficamos, nos “encarando” indiretamente, pois
tinha a mais pura certeza de que ela estaria encostada na cabeceira da
cama, abraçando os joelhos com com força olhando para a mesma porta com a
convicção de que nunca mais a abriria para mim, ficamos assim até que o
Sol quente de meio dia desaparecesse, as sombras se estendessem, a
brisa fria do crepúsculo entrasse pela janela aberta da sala e por fim,
que a fraca luz da lua minguante penetrasse o corredor escuro. Barulho. A
porta fora destrancada, era a minha hora.
Levantei-me soturno e a abri lentamente atravessando o nosso
pequeno quarto indo de encontro a ela debruçada na janela olhando para
um céu sem estrelas. Era como uma gata, a minha pequena, no mais literal
dos sentidos, se aproximar dela não era coisa fácil, tinha que chegar
de mansinho, na ponta dos pés e acariciar levemente revelando boas
intenções. Debrucei-me ao seu lado na janela.
- Sou uma boba não sou? - perguntou-me rindo melancólica.
- Diria que és mais como essa Lua que estampa a negritude do céu, inconstante. Ah pequena, você não é fácil.
- Então porque não desiste logo de mim?
- Mel, Mel… - falei tirando uma mecha de cabelo que caia em seu
rosto - És mesmo uma boba, como ainda não entendeu? Você pode ir embora,
bater o pé, resmungar, mas quando a noite chega você sempre voltará a
ser minha, minha Lua, minha vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário