10 de janeiro de 2013

suicídio de um marinheiro


  Azul.
  Era a última coisa de que me lembrava. Ainda me pergunto se era o céu ou a água que me cercava. Lembro-me apenas que era paz. Ou talvez eu já estivesse tão dentro do meu inconsciente que tudo fosse paz, afinal. E eu sorri. Meu corpo afundava pesadamente como a ancora de um navio, mas minha mente flutuava, ainda pairava na superfície. Um barquinho de papel, pensei. Frágil, pequeno, indefeso, mas com a ousadia de cruzar os sete mares. E cruzou. Meu corpo, minha casca, jazia nas profundezas. Mas eu já estava muito além, seguindo as rotas das gaivotas para o Sul, me deixei levar pela maré, surfei nas ondas, me apaixonei pelo canto das sereias e naveguei e naveguei... 
   E à noite, voltava à praia, deitava sobre a areia morna e assistia o sol se pôr, jurando caça-lo pela manhã. Então o degradê de cores ia sumindo de mansinho, céu e mar tornavam-se espelhos, um refletindo a grandeza do outro.
   E tudo era paz. E ela era azul.

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